Um palavrão soprado
Oscar Niemeyer, a vida é um sopro. Belo filme, belas imagens. Um filme redondo, sem quinas e sem atritos. Um filme como tem que ser um filme sobre Niemeyer. No ano em que completa seu centenário de vida, dia 15 de dezembro, o arquiteto ganha de presente um documentário sobre sua obra. Não vá ao cinema esperando conhecer a biografia de Niemeyer. O filme é uma grande e merecida homenagem. Conta através de imagens e depoimentos a história profissional do arquiteto. Não apresenta informações inéditas, mas é um filme que merece ser visto.
Mais do que protagonista, Niemeyer é o anfitrião daqueles que entram em sua vida. Ele conduz e determina o que será visto e como será visto. O filme é uma aula de arquitetura e não apresenta críticas. Para todas as opiniões contrárias, Niemeyer apresenta sua defesa. Por exemplo, “dizem que meus projetos não são práticos. Eu fiz a sede do partido [comunista Francês], dez anos depois eles me chamaram para fazer o prédio do jornal [Le Humanité], significa que funciona, se não funcionasse não me chamavam”. Para as críticas que não tem resposta, a resposta é pronta “tudo tem que explicar. Mediocridade ativa é uma merda”.
Merda é a marca do vocabulário no filme, mas não é um problema. Diante de imagens tão belas, o vocabulário é um detalhe, um toque de bom humor e descontração que desloca a aula do mestre de sua linha reta e previsível. Pensamentos sobre a vida e arquitetura são desenvolvidos utilizando um amplo leque de palavrões, o próprio conceito de Niemeyer sobre a existência, “a vida é um sopro”, é acrescido de outro: “A vida é isso – nasceu, cresceu, morreu, fudeu-se”. Para Niemeyer, a arquitetura é o “momento da invenção” e “é feita para os ricos”, mas ao menos serve para os pobres admirarem a beleza quando passam em frente.
O filme resgata registros iconográficos importantes sobre a construção de Brasília e da Pampulha em Belo Horizonte, discursos sobre a criação do prédio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema, depoimentos do arquiteto Lúcio Costa e uma entrevista com Jean-Paul Sartre durante sua visita ao Brasil falando sobre a revolução Cubana. Inserções que intercalam o imenso depoimento de Niemeyer e dão ritmo ao filme.
Oscar Niemeyer – A vida é um sopro tem 90 minutos de duração que passam rapidamente e começou a ser produzido no aniversário de 90 anos do arquiteto. Direção de Fabiano Maciel
Ficha técnica
OSCAR NIEMEYER: A VIDA É UM SOPRO
Brasil, 2006
Direção e roteiro: FABIANO MACIEL
Produção executiva: SACHA
Fotografia: MARCO OLIVEIRA, JACQUES CHEUICHE
Montagem: JOANA COLLIER, JORDANA BERG, NINA GALANTERNICK
Música: JOÃO DONATO, BERNA CEPPAS, KASSIM, FELIPE POLI
Som direto: BRUNO FERNANDES, ROBERTO RIVA
Pesquisa: EDUARDO GUEDES, NUNO GODOLPHIN
Duração: 90 minutos
Marcadores: Crítica Niemeyer
1 Comentários:
Boa crítica! A começar pelo título.
Geane
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