Cartola
por: Clara Werneck
Compositor, carioca, poeta, malandro. Cartola foi uma das figuras mais significativas não só da música, mas também da cultura brasileira no século XX. Seria um enorme desperdício realizar um documentário quadrado, convencional sobre o fundador da Estação Primeira de Mangueira. Mas como retratar sua vida sem que os típicos depoimentos de familiares e amigos, imagens e fotos de sua vida caíssem no clichê? Os diretores Lírio Ferreira – que traça um interessante perfil de linguagem desde “O Baile Perfumado” (1997) e o recente “Árido Movie” (2006) - e Hilton Lacerda – roteirista de “Amarelo Manga” (2002) - souberam como.
Através de inúmeras técnicas de montagem e de composição do documentário, os diretores conseguiram fazer um trabalho de enorme sensibilidade, traçando os passos de Cartola com muita poesia. Belíssimas e raras imagens do Rio e do Brasil do início do século até a década de 80 compõem o ambiente da vida do compositor; cenas de filmes brasileiros clássicos como Rio 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, Terra em Transe, de Glauber Rocha e ainda filmes de Oscarito, ilustram e dão forma aos diversos aspectos da vida do fundador da Mangueira.
Fugindo às normas do documentário tradicional – narração em off, depoimentos simples e imagens previsíveis - os diretores e roteiristas intercalavam imagens de quem dava um depoimento com imagens do Morro da Mangueira, da Lapa, do Rio e de demais situações relacionadas à vida de Cartola. Em um dado momento, quando o documentário aborda uma má fase na vida do compositor, na qual ele se afastou da Mangueira e do samba e teve problemas com a bebida, os diretores utilizaram um recurso de linguagem e deixaram a tela completamente negra e silenciosa enquanto, em off, um companheiro narrava as dificuldades pelas quais passava Cartola. E de repente, sobe o áudio com uma de suas belíssimas composições, e imagens de um Rio vibrante, com a Bossa Nova e o espírito positivo do início da década de sessenta, deixam claro que o sambista havia se recuperado e que retornara à ativa.
Sutil como as composições de Cartola mas inquietante como os fatos conturbados de sua vida, “Cartola” traz a público fatos conhecidos e às vezes desconhecidos da vida do compositor; mas independente disso, aborda com tamanha sensibilidade e criatividade os aspectos de sua história que o espectador tem a possibilidade de ir além. Não só conhecer, mas sentir o universo desse que foi um dos mais importantes compositores da música brasileira.
Marcadores: Crítica Cartola
1 Comentários:
Oi Clara,
vc insiste nas inespecíficas ´inúmeras técnicas de montagem`, hem???
Geane
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