quarta-feira, 9 de maio de 2007

Bem intencionado, mas mal estruturado

por: Flávia Freitas Brandão


Muita fala e pouco Cartola. É o que o espectador certamente irá sentir quando sair da sala de cinema, após ver “Cartola-Música para os Olhos”(Brasil-2007). Os méritos de Lírio Ferreira e de Hilton Lacerda, respectivamente diretor e roteirista do documentário, são dignos ao tentarem trazer a público aquele que foi um dos maiores compositores e interpretes da música popular brasileira. Sem dúvida, um incentivo a memória cultural do país. Mas, a forma de retratar quem foi esse ícone do samba se mostra obscura aos olhos do espetador, que tenta descobrir em meio a uma miscelânia de imagens de arquivos e depoimentos, quem realmente foi Angenor de Oliveira. Em síntese: bem intencionado, mas mal estruturado.

Começar pelo morte ou pelo nascimento? Essa é a pergunta que o documentário joga para aqueles que o assistem já nos primeiros minutos de exibição. O caminho seria irrelevante se os diretores não tivessem abusado de uma mistura demasiada de depoimentos, que deixam o espectador perdido sem saber ,muitas vezes, com quem a palavra se encontra no momento.

Outro ponto equivocado foi a inserção do ator, que representa Cartola quando criança. Já que os diretores optaram por construir a história do cantor através de depoimentos e de um mosaico de imagens, a atuação do menino se mostrou equivocada e desnecessária. Talvez se Lírio Ferreira e Hilton Lacerda explorassem mais a atuação do garoto reconstruindo trechos da vida de Cartola, o documentário ganharia mais profundidade no personagem. Essa imersão no universo do personagem é o que a princípio se espera de uma cinebiografia, e isso o documentário dos diretores pernambucanos não consegue alcançar. Na busca da inovação, Hilton e Lírio desviaram o foco biográfico e Cartola se perdeu no emaranhado de referências presentes no filme (imagens de arquivos, falas de amigos, entrevistas para rádio e tv e trechos de filmes).

Mas apesar desses equívocos “Cartola- Música para os Olhos” merece ser visto porque apresenta também pontos positivos. A exemplo, o recurso cinematográfico, um tanto original, de exibição de uma tela negra para ilustrar o momento em que Cartola sai da cena musical. Além disso, o recurso do diálogo cinematográfico com trechos de “Brás Cubas”, de Júlio Bressane e “Rio 40 graus” de Nelson Pereira dos Santos. E também não se pode deixar de elencar os belos momentos musicais, que certamente irão fazer com que o espectador se emocione e cante junto com o gênio do samba, Cartola.

Agora para aqueles que não conhecem esse grande compositor não deixem de ler antes de ir para a sala de cinema, pois “Cartola-Música para os olhos” não vai suprir a sua curiosidade de saber detalhes da vida de Angenor de Oliveira, o Cartola.

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1 Comentários:

Blogger 8o JN 1/2007 disse...

Gostei muito desta critica, especialmente da primeira frase:contundente!
Geane

15 de maio de 2007 às 13:37  

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