quinta-feira, 10 de maio de 2007

Cartola, o sambista malandro

por Wesley Diniz


Fazer filme biográfico é sempre um desafio para os cineastas, representar os trejeitos e pensamentos do personagem é uma armadilha, principalmente se esse personagem for Agenor de Oliveira, o popular Cartola. O documentário “Cartola – Música para os Olhos” é um resgate da memória brasileira, um homem que tem papel fundamental na história do samba brasileiro, com mais de 500 composições, além de ser um dos fundadores da Mangueira. O filme retrata a vida boêmia do sambista e compositor carioca de vida simples, que só gravou seu primeiro disco aos 65 anos.

Cartola segue uma tendência do cinema atual, que exibe histórias fragmentadas, assim como o Premiado Crash – No Limite, Babel, Traffic, entre vários outros, diferente dos modelos tradicionais de documentário, que normalmente possuem uma linearidade. “Não sei se começo a narrar minhas memórias pela minha ou pelo meu nascimento”. A referência a Memórias Póstumas de Brás Cubas, no inicio do filme, dá o tom da falta de linearidade do longa, que apresenta Cartola em seu enterro. Esse experimentalismo, para quem não tem um conhecimento mínimo do sambista, pode criar uma imagem fragmentada do personagem.

Estereótipo do malandro carioca, Cartola é resultado de uma sequencia ficcional e de uma miscelânea de arquivos históricos – pedaços de shows, entrevistas e fotografias. Um homem que viveu entre as mulheres, sambas e bares; e na maioria das vezes com o bolso vazio, foi ilustrado pelos diretores como o próprio personagem, sem aquele tom melancólico muitas vezes mostrados nas biografias cinematográficas.

Lírio Ferreira e Hilton Lacerda fazem uso de técnicas interessantes para contextualizar o documentário. Cenas dos soldados andando para trás – representando um momento de retrocesso do país, a ditadura; tomadas de tela negra remetendo a uma fase obscura de Cartola e imagens da segunda guerra são referências do momento vivido pelo sambista.

Resgate da memória que é normalmente esquecida? De um lado cineastas ignoradores da história e de uma nação sem memória. Do outro a dificuldade de se ter acesso a arquivos que são protegidos por leis ou simplesmente são tratados como entulhos. Lírio Ferreira idealizou o filme em 1998 e devido a essas dificuldades só finalizou o filme em 2006.

O filme é a representação do que esse sambista, de jeito malandro, significou para a cultura brasileira, um resgate da identidade de homens e mulheres que fizeram do “batuque ritmado” parte da sua cultura.

1 Comentários:

Blogger 8o JN 1/2007 disse...

ei Wesley,
vc opta por continuar com o resgate da memoria brasileira sem especificar de que memoria fala e por que o filme acerta nisso.
Geane

15 de maio de 2007 às 13:34  

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