terça-feira, 8 de maio de 2007

Um convite a um tempo passado

por: Luciano Márcio

O cinema brasileiro passa por uma fase de lançamentos de biografias de figuras emblemáticas na área sócio cultural. Filmes como Vinicius e Nyemier procuram fazer o resgate de personalidades famosas por razões que grande parte do público desconhece. Com essa vertente tão em voga, mais um filme vem se somar a essa fileira: Cartola – Música para os Olhos (Brasil, 2007), cinebiografia do sambista carioca Angenor de Oliveira. Mas é de destaque a qualidade da obra.

O músico, máximo expoente da lírica malandragem carioca, fundador da Mangueira e dotado de uma vida que (perdão pelo trocadilho) daria um filme, deu origem a um documentário que mescla de forma criativa imagens documentais e filmagens que buscam recriar momentos vividos pelo compositor.

O filme de Hilton Lacerda e Lírio Ferreira não pretende desde o inicio seguir uma linha linear. Começando com imagens do enterro de Cartola em 1980, houve-se a narração em off do trecho inicial das Memórias Póstumas de Brás Cubas. Aquela do “não sei se começo a narrar minha memórias pelo fim ou pelo começo, ou seja, pela minha morte ou pelo meu nascimento”. Tem-se assim estabelecido o pacto entre espectador e obra de que o que virá a seguir não será exatamente um documentário linear. Apesar de cronológico, o modo como a história é narrada foge do clichê de imagens de arquivo depoimentos, apesar de utilizar desses recursos. Pequenas mudanças na estrutura, como o uso de som e a não utilização de imagens com o fim de produzir uma sensação de obscurecimento quando Cartola ruma ao ostracismo, dão o efeito contrário a maioria dos documentários, que buscam ser uma representação fiel da realidade. O filme busca ser um convite apaixonado para que o espectador conheça a história da vida de Cartola e sua importância no cenário musical e emocional no mundo samba carioca.

Nascido em 1908, testemunha e personagem de grande parte do nascimento do samba, Cartola passou por períodos em que chegou a ser lavador de carro, quando foi resgatado para voltar ao mundo da música por Stanislaw Ponte Preta, jornalista influente da década de 50. O curioso é que as únicas gravações de sua carreia foram durante a década de 70, já sexagenário.

Desperta interesse no filme o fato de ele não se prender apensa à figura de Angenor. Por vezes, ele é simplesmente usado como pano de fundo para retratar uma época ou acontecimentos que marcarão seu tempo. Cartola se torna protagonista e coadjuvante do mundo em que vive, tornando sua passagem pela vida mais marcante e encantadora. Músicas, depoimentos e imagens se fundem para criar um manancial de sentidos, confusos em alguns momentos, mas sempre dotados de sincera sensibilidade.

O filme consegue encerrar o circulo que se propôs no inicio da obra, assim como na música mais famosa de Cartola, “A vida é um moinho”. Ao veicular novamente imagens do enterro, o filme consegue estabelecer a atemporaliedade da obra de Cartola. O samba prossegue a tocar onde reside o corpo de Cartola. Angenor não deixou o samba morrer. Assim como o filme, quando recupera a passagem de Cartola pela vida, com tanto lirismo e poesia.

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1 Comentários:

Blogger 8o JN 1/2007 disse...

Oi Luciano,
acho que o primeira parágrafo de uma crítica deve apresentar a linha geral de sua argumentação, pense nisso.
Geane

9 de maio de 2007 às 12:58  

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