Cartola, uma viagem ao passado do Brasil
Um misto de filme com documentário, o Cartola tenta contar não só a vida de um dos compositores mais importantes da música brasileira, mas também a história do samba no Rio de Janeiro. Com a extensa pesquisa de imagens de arquivo, o filme acabou sendo também um registro da política e da história do audiovisual brasileiras, já que mostra como eram os enquadramentos e recortes utilizados em reportagens e filmes antigos. A proposta é audaciosa, talvez a pressão de utilizar muito do que foi pesquisado para contextualizar com alguns os momentos políticos do Brasil tenha deixado que o mosaico de cenas e imagens de arquivo ofuscasse a percepção do espectador sobre Cartola.
Os diretores, Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, recorreram a entrevistas com os personagens que acompanharam a vida do mestre ou fizeram parte do cotidiano da comunidade da Mangueira, além de críticos, de historiadores, de cantores, de músicos e de compositores. Entre eles estão Elton Medeiros, uma das maiores fontes para a produção do filme; Madame Satã, um transformista negro carioca do início do século passado; Carlos Cachaça, compositor, um dos fundadores da escola de samba Mangueira e amigo de Cartola e Nelson Sargento, que foi seu discípulo e é considerado por muitos como seu sucessor.
O contexto político e de vida são expostos com dramatização, imagens do cinema e de reportagens, pelos entrevistados, e claro, algumas de suas 500 canções. Fica claro que o bairro classe média e o morro deram régua e compasso para os versos e as canções do compositor, já que até os 15 anos, ele viveu com a família e freqüentou escolas de ensino clássicas. Com a morte da mãe, deixa a escola e passa a ter lições de boemia, até se transformar o grande compositor e a semente da Estação Primeira de Mangueira, em 1928.
Os diretores tentarem se aproximar do estilo de cinema “marginal” de Rogério Sganzerla e Julio Bressane na busca de uma linguagem diferenciada, semidocumental, experimental que rompe com a idéia de cinema de consumo fácil. Para entrar no filme, o espectador tem que embarcar na viagem dos diretores. A ligação feita com o ano em que Cartola nasceu e Machado de Assis morreu ajudou a reforçar a idéia de uma narrativa póstuma. O filme começa e termina com cenas do enterro do compositor que passa a narrar sua trajetória. Nessa seqüência existem cenas de "Brás Cubas", de Bressane, junto com as imagens reais do sepultamento. Um microfone percorre uma caveira, não só para dar voz ao cadáver de Cartola como estabelecê-lo como um legítimo sucessor de Machado de Assis na transição de uma cultura literária para a cultura popular em sua importância para a cultura carioca e brasileira.
Assista ao trailer do filme
Marcadores: Crítica Cartola
1 Comentários:
Será mesmo que a história do audiovisual brasileiro é uma tônica deste filme?
Geane
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